Toda criança tem seu ritmo, mas como perceber atrasos?

  • As crianças aprendem por imitação e precisam ter estímulos motores e sensitivos As crianças aprendem por imitação e precisam ter estímulos motores e sensitivos

Muito repetida por aí, a frase "cada criança tem seu ritmo" é verdade,
mas não pode ser aplicada, indistintamente, a todas as situações que
envolvem o desenvolvimento infantil. Atraso em ações como sentar, andar,
falar, ler, interagir pode ser indicativo de problemas que pedem
intervenção precoce para não afetar a vida da criança no futuro.


Segundo Francisco Lembo, pediatra do Hospital Samaritano de São Paulo, o
ritmo de desenvolvimento da criança é individual, mas obedece a algumas
regras gerais compatíveis com os níveis de maturação e integridade do
sistema nervoso central em cada período. Exemplificando de modo prático:
a criança sustenta primeiro a cabeça, depois o tronco, em seguida a
pelve, as coxas, as pernas e, por último, os pés. Por essa lógica, o
ideal é sentar aos seis meses, engatinhar aos nove e andar aos 13.


"Essas idades são apenas referências para avaliação das crianças.
Portanto, podem variar dentro de um limite de dois meses para mais ou
para menos, mas sempre na mesma ordem", afirma o especialista. Existem
tabelas com as fases de desenvolvimento neuropsicomotor, em ordem
cronológica, que podem ser consultadas pelos pais.

Na caderneta
de vacinação produzida pelo Ministério da Saúde é possível encontrar
algumas orientações. "Os pais devem se informar sobre como uma criança
se desenvolve, em qual idade ela sorri, levanta-se, comunica-se. São os
famosos marcos do desenvolvimento infantil, que precisam ser
acompanhados pelo pediatra", fala Luiz Guilherme Florence, pediatra do
Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

O desenvolvimento do bebê

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Estimular é preciso

Embora esses marcos aconteçam de forma espontânea e natural, não
estimulá-los é um grande erro cometido pelos pais. "A existência de
estímulos externos adequados e o apoio emocional positivo com carinho,
atenção e amor são primordiais", diz Fernando Gomes Pinto,
neurocirurgião pediátrico e neurocientista, coordenador do Centro de
Excelência em Cranioestenose e Hidrocefalia do Hospital Infantil Sabará,
de São Paulo.

A fase crucial, que merece observação atenta,
vai do nascimento aos dois anos, em média. "Se você deixar uma criança
no berço sentada o tempo todo, ela vai apresentar uma dificuldade
motora. Todo bebê precisa ser colocado em situações que permitam o
estímulo e o amadurecimento próprios do desenvolvimento", diz a
psicopedagoga e terapeuta familiar Quézia Bombonatto, diretora da ABPp
(Associação Brasileira de Psicopedagogia).

No entanto, não
basta se preocupar em estimular o filho –é preciso fazê-lo do jeito
certo. "As crianças aprendem por imitação e precisam ter estímulos
motores e sensitivos. Um exemplo errado de estímulo é o andador, que não incentiva a criança, já que ela anda pelo movimento dele", fala a psicopedagoga.

Sinais de atenção

Para Quézia, além de se informar sobre as conquistas que marcam o
desenvolvimento, os pais devem prestar atenção no referencial de outras
crianças da mesma faixa etária e ainda fazer uma avaliação sobre a
própria conduta com o filho. "Se, mesmo estimulado, ele não reage de
acordo com as outras crianças da mesma idade é necessário procurar
ajuda", afirma.

Além da demora para fazer certas coisas
pertinentes à idade, há outros sinais aos quais os pais precisam ficar
atentos. "O regresso de habilidades adquiridas ou mesmo a estagnação na
aquisição podem configurar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
Deixar de andar, perder o equilíbrio e a coordenação motora
recém-adquiridos ou a perda do contato afetivo são sinais importantes
que requerem atenção imediata", declara o neurocirurgião pediátrico
Fernando Gomes Pinto.

"Alimentação inadequada, sono ruim,
irritação, muita passividade, falta de interesse em brincar ou em
interagir também exigem atenção", diz o pediatra Luiz Guilherme
Florence.

Ao se dar conta de que o filho não apresenta os
resultados esperados para a idade, é importante procurar ajuda o quanto
antes. "Se alguém da família ou próximo alertar para algo errado no
comportamento da criança, não deixe de contar ao pediatra. Pode ser uma
besteira, mas nem sempre é", afirma Florence.

O pior erro é
achar que a situação vai se resolver sozinha, sem fazer nada a respeito.
O medo ou a vergonha de achar que a criança tem uma doença faz com que
os pais, muitas vezes, não procurem uma avaliação. "O início precoce de
um tratamento com fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional,
neuropsicologia, medicamentos ou cirurgia pode conduzir o
desenvolvimento da criança para a normalidade", afirma Fernando Gomes,
do Sabará.