Quando se fala de grandes inventores e intelectuais da História, normalmente são os homens que ganham os holofotes. Ainda que durante séculos a maioria das mulheres ficou limitada ao cuidado da casa, do casamento e da família – e muitas vezes proibidas de estudarem – houve quem seguisse linhas diferentes e surpreendesse as pessoas do seu tempo com grandes inovações e contribuições para a Humanidade. Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o Gênio Criador relembra cinco descobertas que vieram de brilhantes mentes femininas.
Limpador de para-brisa (Mary Anderson)

Durante um passeio de bonde nas ruas de Nova York, a fazendeira norte-americana Mary Anderson (1866-1953) vivia reclamando que os motoristas dos bondes tinham que parar muito para remover a neve que se acumulava nas janelas do veículo. Cansada dessa situação, desenvolveu uma haste com um rodo que era controlado por uma alavanca dentro do carro e o patenteou em 1905. Em 1908, sua invenção já fazia parte do Ford I, o primeiro automóvel movido à gasolina. Em 1916, o acessório já era considerado padrão para todos os veículos do país. Segundo o Guia dos Curiosos, Anderson entrou para a História por ser a primeira mulher a desenvolver um acessório para automóveis.
Sutiã (Mary Phelps Jacob)

A palavra sutiã vem do francês “soutien gorge” (sustentador de seio). Segundo a revista Mundo Estranho, há mais de dois milênios já existiam registros de vestimentas semelhantes em algumas civilizações antigas. No século XIX surgiram diversas invenções parecidas (principalmente nos EUA e França) mas que não atraiam a atenção das mulheres. Foi então que a poeta, editora e socialite nova-iorquina Mary Phelps Jacob (1891 – 1970) criou o primeiro modelo popular do sutiã, fruto do seu descontentamento com um acessório muito utilizado na época: o espartilho. Segundo ela, a peça apertava demais o corpo e ainda deixava as gorduras muito à mostra nos vestidos. O acessório era composto por dois lenços, uma fita rosa e um cordão. Com a ajuda de uma empregada, confeccionou o invento para as amigas, e após ver o sucesso da invenção entre a elite da cidade, decidiu comercializá-lo e criou uma fábrica, a Caresse Crosby Soutiens. O sutiã (sob o nome de “brassière”) foi patenteado em 1915. Anos depois, a socialite vendeu a patente do produto para a Warner Brothers Corset Company, que faturou milhões com a novidade nos guarda-roupas das mulheres. Em 1928, a imigrante russa Ida Rosenthal desenvolveu a numeração para o tamanho do busto, que determina o bojo do sutiã. Ela também desenvolveu modelos que realçam os seios.
Um fato curioso é que anos antes, em 1893, a americana Mary Tucek patenteava o primeiro desenho de sutiã com modelagem semelhante à atual. A invenção possuía bojos separados, alças para os ombros, e preso na parte de trás por colchetes. A criação não se popularizou por falta de maior divulgação.
Elementos radioativos (Marie Curie)

Influenciados pelos primeiros estudos do físico francês Henri Becquerel, que descobriu a radioatividade em 1896, a física e química polonesa Marie Sklodovska Curie (1867 - 1934) e seu marido também físico Pierre Curie descobriram o elemento químico rádio em 1898, após realizaram pesquisas com o minério de urânio. Curie passou a sua vida se dedicando a descobertas de elementos radioativos, como o tório e o polônio, chegando a ganhar o Prêmio Nobel de Física de 1903 e o Prêmio Nobel de Química de 1911. Tornou-se a primeira mulher a receber o prêmio, a conquistá-lo duplamente e em duas áreas diferentes, além de também ter sido a primeira docente mulher da Universidade de Paris. Como ainda não se conhecia os efeitos negativos da radiação no organismo humano, Curie acabou falecendo em 1934, vítima de câncer, devido ao contato constante com estes elementos químicos. Seus estudos abriram margem para diversas pesquisas sobre a energia nuclear e radioatividade.
Máquina de lavar louça (Josephine Cochrane)
Filha de um engenheiro e casada com um político importante, a norte-americana Josephine Cochrane (1839-1913) desenvolveu, em 1886, uma máquina constituída por madeira, movida à manivela e que jogava água quente e sabão em pratos e talheres. Cochrane estava cansada de ver as suas louças e copos serem quebrados pelos empregados no momento em que eram lavados. A invenção foi aprimorada, passou a operar automaticamente e com a ajuda do mecânico George Butters, a inventora conseguiu patentear a chamada “Garis-Cochran Dish-Washing Machine” no final do mesmo ano.
Cochrane perdeu o marido anos depois e teve que vender pessoalmente os aparelhos por questões de sobrevivência. Inicialmente, o público-alvo da máquina eram os hotéis e restaurantes. Em uma das entrevistas que deu a um jornal local da época, chegou a contar sobre o espanto de caminhar sozinha em um dos locais para vender o produto “Eu nunca tinha ido a lugar nenhum sem o meu pai ou marido”. A máquina prosperou tanto que chegou a montar uma fábrica, mas ela continuou vendendo pessoalmente seus produtos. Ao morrer em 1913, sua fábrica foi comprada pela atual Whirlpool Corporation (que no Brasil atua com as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid). As versões domésticas tal qual conhecemos hoje começaram a ser popularizadas a partir da década de 1970.
Corretivo líquido (Bette Nesmith Graham)

A norte-americana Bette Nesmith Graham (1924-1980), divorciada e com a missão de criar sozinha o filho Michael, arrumou emprego em 1951 como secretária no Texas Bank and Trust, em Dallas. Tempos depois, cansada de trocar folhas por conta de erros ao datilografar na máquina de escrever, aproveitou-se do seu gosto pelas artes e manejo de tintas para desenvolver um líquido branco que pintava estes erros. Nascia o líquido corretivo (Liquid Paper). De início, Graham usava o produto secretamente e orgulhava-se pelo fato que seu chefe não percebia os erros. Logo seus colegas de trabalho tomaram conhecimento da invenção e a texana viu uma ótima oportunidade de comercialização. Sob o nome de Mistake Out, o produto foi patenteado e passou a ser comercializado em 1956 com a ajuda de seu filho e amigos, que produziam o produto em garrafas. Pouco depois o nome mudou para Liquid Paper. A ideia foi tão bem aceita que a empresária ficou milionária com sua invenção e chegou a vendê-la para mais de 35 países e para grandes empresas como a General Electric.
Graham inovou não só no produto, mas também em políticas organizacionais, da qual incentivava seus funcionários a participarem das decisões empresariais, além de ter criado uma biblioteca e um centro de acolhimento de crianças na fábrica. Parte de sua fortuna também foi utilizada para fundar duas instituições dedicadas a mulheres carentes, a Giom Foundation (1976) e a Bette Clair McMurray Foundation (1978). Em 1979, vendeu sua empresa para a Gillette Corporation por U$45 milhões. Na época, a empresa tinha 200 colaboradores e produzia 25 milhões de frascos de Liquid Paper por ano. Faleceu um ano depois, aos 56 anos. Seu filho Michael, que se tornou guitarrista da banda The Monkees, continuou as suas ações de caridade.
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